Foi um amor difícil. Como cada outro.
Eles se encontraram pela primeira vez numa festa na aldeia. ELA era de uma aldeia vizinha – ELE era um convidado de outro planeta. Ele tinha unhas lindamente tratadas e pele macia como seda. As mãos jovensdela estavam duras de trabalho. Mesmo como uma garota, a quem não podia negar seu charme, ela carregava pesadas latas de leite, maiores do que ela. Ela ajudava o pai porque ela e a irmã eram as primeiras de oito irmãos. Os meninos ´´cairam´´ os pais depois, e a mais velha das irmãs teve que ser mandada “para as escolas”, então ELA foi o maior apoio na situação dos menores, pois nasceu em segundo lugar na fila dos nascimentos.
Ela era o orgulho de seu pai, embora ele não a contasse tão diretamente. Ela era encarregada de seus irmãos mais novos quando sua mãe dava à luz. Elas ficaram ombro a ombro no campo assim que foi decidido que a garota sabia e podia. Sua infância cheirava a ar quente exalado pelo cavalo favorito de seu pai, por quem ele expressava seu amor com disciplina. Costumava ver sua mãe com os olhos vermelhos de lágrimas. Aparentemente ela tinha olhos muito sensíveis. Era grata à mãe por cuidar da linguagem. Ela não deixou as crianças falarem em dialeto. Deviam usar palavras polacas com respeito e cuidado. Não sabia se era porque a mãe era de Grodno, que acabou fora das fronteiras depois da guerra, ou por causa do trabalho forçado de fazendeiros alemães, onde conheceram o pai. ELA também queria falar bonito, para se distanciar da aldeia e das ´´fazendas´´ (é assim que a mãe se referia às outras crianças da aldeia).
Quando ela e a irmã foram morar com a tia na cidade, compartilharam um par de meias. Considerava a irmã mais velha mais bonita, então observou com prazer enquanto a outra desenhava linhas pretas da moda acima de suas pálpebras. Invejava a irmã encontros, embora ela própria fosse muito popular. Talvez porque todos disseram que ele era a melhor par … da aldeia. O filho do fazendeiro mais rico estava interessado nela porque era a garota que mais trabalhava na área. E ela gostava da cidade. E daí se ela fosse pobre? Ela tinha muitos amigos assim. Elas mesmas costuraram minissaias e correram para festas apesar de estarem cansadas depois de um dia de trabalho no campo.
Durante uma das poucas festas a que foi, ela viu ELE. Estava sorrindo em uma camisa que cheirava a perfume da moda, que parecia por baixo de uma jaqueta bem ajustada. Calças em forma de sino, cortadas de acordo com as últimas tendências, devem ter saído da mão do alfaiate. Estava todo radiante quando, encorajado a se exibir, tocou no quartel de bombeiros “Czardasza” Monti. Seus dedos graciosos com a leveza de uma bailarina rugiam nas cordas do violino. Enquanto eles olhavam para o céu noturno estrelado, a mão dela tremia de excitação na dele. Foi ELA, orgulhosamente ereta, que ele escolheu entre outras garotas encantadas. Eles dançaram juntos até o amanhecer.
No dia do casamento, ela ouviu do pai: “Você vai chorar por causa dele.” Os pais dele não vieram.
Para sua mãe, ELE foi o único dos três recém-nascidos que finalmente sobreviveu. O pai continuou a fotografá-lo: com um violino, com um amigo, no rio Vístula, em um caiaque, em uma árvore, no jantar, com um cachorro, em frente a uma televisão, com uma embreagem em um kiev .. Em muitas das fotos ele estava envolto nos braços de sua mãe que o amava. Ela previu uma grande carreira como violinista para ELE. ELE preferia a companhia de colegas. Assim que teve a oportunidade, ele fugiu de casa para seus colegas. ELE aprendeu rapidamente a fumar e a beber álcool. Outros o amavam. Havia o assim chamado ´´alma das festas´´ . Às vezes, a mãe esperava por ELE na porta até de manhã. Ela o amava mais do que a vida e preferia mantê-lo apenas para si mesma.
E de repente todos sentiram saudades dele, porque aos 24 anos ele tinha uma filha.
Ele jogava onde podia, mas depois da tropa não teve tempo de ir para a faculdade, então não era o suficiente para sustentar sua família. Ainda mais porque o dinheiro também ia para o cigarro e o álcool, que naquela época eram atributos inerentes não só aos artistas. A vodka abriu todas as portas. Mesmo aqueles que não devem ser abertos. Primeiro, um estranho abriu a porta do armazém que ELE deveria guardar. Nas brumas do “centeio”, ele nem teve tempo de ficar sóbrio quando outra porta se abriu – atrás de uma grade de metal pesado.
Ele escreveu cartas calorosas para ELA enquanto ela lavava a si mesma e a sua filhinha em água gelada em um quarto alugado. Ela largou o curso noturno, que mal começar, e passou mais horas trabalhando para poupar o máximo possível para pagar a dívida dele. Graças a isso, ele não teve que trabalhar na biblioteca da prisão por muito tempo. Depois de sair a liberdade, os dois choraram muito e beijaram-se e a pequena. Para sair de uma situação financeira difícil, ele largou o violino e descarregou os vagões com carvão.
Sempre que situação melhorava, ela comprava mais fatos para ele. Ela própria calçava sapatos tortos e velhos. Ele tinha que tocar. Ele tinha talento. A filha cresceu, então eles precisavam cada vez mais de dinheiro. Mais que parte do dinheiro que ganhava derreteu no caminho para casa em um líquido ígneo e fumaça de cigarro. Ele também gastou zlotys com a filha: comprou para ela pequenos violinos e uma caixa – para filha seguir seus passos. Ele amava-a como sua mãe amava-o.
Ele amava a esposa por sua responsabilidade e cuidado com o lar. Do nada, ela conseguia evocar uma refeição saborosa, refrescos para os colegas e um sorriso, mesmo quando estava triste. E ela ficava cada vez mais triste. “É de cansaço”, comentaram juntos. Mas ela não estava rindo por muitos motivos. Quando receberam os sogros num minúsculo quarto no sótão de um antigo predio, lavando pratos depois do jantar, ela não entendeu alemão quando a sogra falou com o filho. Em outra ocasião, ela ficou chocada com uma conversa com uma professora de jardim de infância que se queixou de que o pai havia mais uma vez levado sua filha “em estado de ingestão”.
Felizmente, sua filha os compensou por todos os problemas causados pela vida cotidiana na República Popular da Polônia. Ela tocava duetos de violino com o pai, pulava num elástico perto da janela e estava explodindo de alegria independente da situação. Ela era o orgulho dos seus pais e avós. Eles viajaram com ela para o campo, para escavações e para sua avó na cidade, que amava sua neta tanto quanto amava seu filho.
ELES próprios, aproximavam-se um do outro, afastavam-se. Quando ele recebeu o chamado ´´verificações do estado´´ e poderia assinar um contrato com a PAGART como violinista profissional, o mundo estava aberto para ELE. ELA O apoiou tanto quanto pôde. Mudaram-se para um apartamento melhor e compraram tudo o que ele precisava para trabalhar no estrangeiro. Na noite anterior à partida, eles olharam para o céu estrelado da varanda de um apartamento recém-acabado, abraçaram-se e sonharam com uma vida melhor. Ela não sabia então que havia em algum lugar outra mulher adulta que sonhava com uma vida melhor com ESSE violinista.
Quando a verdade se revelou mais dolorosa do que uma visão, o mundo DELA entrou em colapso. Ela começou a se debater em atividades e de vez em quando perdia o caminho conhecido, marcado pela autodisciplina e pelo amor. Apenas sua filha a trouxe de volta à trilha conhecida. ELE escolheu viver com outra e morreu pouco depois. Quando ele saiu, até as condolências foram dadas aos mãos da “outra”. E ainda assim ela sempre esperava que ele ia voltar. Ela sempre disse à filha que, mesmo que ele ficasse nu na porta, ela o aceitaria de volta. Ela nunca deixou de amá-lo.
Hoje de madrugada estou sob um céu estrelado, longe das aldeias e cidades do passado. Amanhã será um dia especial, em que me vou lembrar DELES. Estou escrevendo ao lado da abajur porque tive um sonho com ELA. Vista de um ponto de vista de pássaro, uma vez com o vestido verde que ela fez para um dos concertos dele, outra com a jaqueta framboesa que ele mandou para ela durante “contrato”. Sou fruto de curta história de paixão DELES. Toco o violino que ELE me deu. Hoje coloquei-o ao lado da foto dela.